Desastres revelam falhas que colocam vidas em risco. Será que estamos atentos aos sinais silenciosos em outras áreas da saúde, como a mamografia? Antes que seja tarde, é urgente refletir: o que estamos fazendo para garantir a segurança do paciente no radiodiagnóstico?
Recentemente, fomos surpreendidos por uma notícia alarmante: transplantes de órgãos infectados com HIV em pacientes que, em um cenário de confiança no sistema, jamais deveriam ter sido expostos a essa condição. Esse incidente nos faz refletir profundamente sobre a cadeia de responsabilidade que deve existir na área da saúde — não apenas no campo dos transplantes, mas também em setores como o da radiologia, onde os erros podem ser sutis, mas devastadores.
Essa reflexão é especialmente relevante quando consideramos a qualidade dos exames de mamografia no Brasil. Como bem sabemos, a precisão e a acurácia dos equipamentos e dos profissionais que operam essas máquinas são fundamentais para diagnósticos corretos. E ainda assim, muitos serviços no país continuam a operar com mamógrafos sucateados, sensores obsoletos, e sem testes de controle de qualidade regulares.
O problema é maior do que parece
Desde os primeiros esforços na década de 1970, como aqueles realizados no Centro de Pesquisa Luiza Gomes de Lemos, no Rio de Janeiro, até agora, a busca por qualidade em mamografia tem sido um desafio constante. A ANVISA e o INCA vêm trabalhando para garantir que as doses de radiação sejam adequadas e que as imagens sejam de alta qualidade. No entanto, um estudo revelou que, nos primeiros anos do Programa de Qualidade em Mamografia (PQM), cerca de 60% das mamografias avaliadas apresentaram falhas técnicas. Os erros variavam desde o posicionamento incorreto da mama até problemas na revelação dos filmes, o que resultava em diagnósticos equivocados e na necessidade de repetir exames.
Disclaimer:
Esta mensagem não tem a intenção de desestimular a realização do exame de mamografia, que é um procedimento clínico essencial e fundamental para o diagnóstico precoce. O que estamos discutindo aqui é a necessidade de que os prestadores de serviço garantam a qualidade e precisão que cada mulher merece ao confiar em um exame tão importante.
A publicação “Controle do Câncer de Mama – Documento de Consenso” em 2004 reforçou a necessidade de monitoramento e credenciamento dos serviços de mamografia, mas os desafios persistem. E esses desafios são semelhantes aos que vemos nas manchetes: falta de rastreabilidade e controle podem levar a tragédias evitáveis.
A responsabilidade dos profissionais de radiologia
Aqui entra o papel de cada um de nós. A responsabilidade sobre os diagnósticos e a qualidade dos serviços prestados é intransferível. Não podemos subestimar o impacto que a falta de testes regulares e a má condição dos equipamentos podem ter na vida de pacientes que confiam em nossa expertise para garantir diagnósticos precisos.
E, se a notícia dos transplantes de órgãos com HIV nos parece alarmante, devemos lembrar que erros não visíveis à primeira vista, como a má calibração de um mamógrafo, também podem condenar vidas. Uma falha em um exame de mamografia pode significar a não detecção de um câncer em estágio inicial — e isso pode ser tão grave quanto.
Reflexão: A qualidade da mamografia no Brasil e o papel da responsabilidade técnica
Diante desse cenário, é impossível ignorar o impacto que o controle de qualidade — ou a falta dele — pode ter sobre a vida dos pacientes. O diagnóstico por imagem, especialmente a mamografia, depende diretamente da precisão e da confiabilidade dos equipamentos. E, como visto nos exemplos históricos, problemas técnicos podem passar desapercebidos até que se transformem em crises de saúde pública. Ou seja, as consequências diretas para quem depende de exames precisos.
É nesse ponto que devemos refletir: estamos, como especialistas e profissionais de saúde, garantindo a qualidade dos exames que realizamos? Estamos promovendo uma cultura de constante verificação e atualização técnica? Quando falamos de mamografia, falamos da linha tênue entre a vida e a perda de uma oportunidade de diagnóstico precoce.
A BrasilRad, que desde 2015 realiza testes diários em equipamentos de mamografia, se posiciona não apenas como fornecedora de serviços, mas como um exemplo de comprometimento com a segurança e qualidade diagnóstica. Em vez de seguir uma abordagem superficial, trata-se de incitar uma transformação no pensamento e nas práticas do setor. Afinal, não basta fornecer exames, é preciso garantir que sejam precisos e confiáveis.
Que esse debate nos inspire a questionar não só o que fazemos, mas como fazemos — e, mais importante, o que mais podemos fazer para melhorar.
Autor: Walmoli Gerber Jr.
Diretor Executivo da BrasilRad Física Médica
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