Sempre que se fala em materiais radioativos a primeira atividade associada ao tema é a indústria nuclear. Mas o olhar dos pesquisadores da área de radiações ionizantes tem se voltado para um assunto ainda pouco discutido no Brasil: NORM. A sigla quer dizer materiais radioativos de ocorrência natural, que resultam da presença dos chamados radionuclídeos em rochas, solos, águas e minerais ou do aumento da concentração destes elementos ocasionada por um processo produtivo.
Nem sempre essa ocorrência é esperada, podendo afetar as áreas de petróleo e gás, mineração de carvão, produção de energia a partir de fontes geotérmicas, extração e processamento de minérios, produção de fertilizantes, indústria cimenteira, construção civil, entre outras. O aspecto radiológico que requer cuidados de radioproteção nestas áreas está relacionado à presença dos radionuclídeos das séries naturais do urânio e do tório no bem a ser explorado ou no processo industrial gerador de materiais concentrados que, expostos ao meio ambiente de forma inadequada, podem representar riscos.
Outro fator de extrema importância é que nas exportações de diversos produtos em que estão associados materiais radioativos de ocorrência natural é preciso comprovar que o país cumpre requisitos de proteção dos trabalhadores envolvidos e normas ambientais. Ou seja, o assunto pode se transformar, se não for bem tratado, em uma barreira comercial para as exportações brasileiras. Para discutir o gerenciamento de NORM do ponto de vista da proteção radiológica, o IRD promoverá, de 18 a 20 de agosto, o Simpósio Minérios e Radioatividade, no Rio de Janeiro, com a presença de especialistas no tema.
Segurança
As indústrias envolvidas nem sempre estão atentas para o problema. Num mesmo segmento industrial pode haver ou não casos de NORM. A questão envolve proteção e segurança dos trabalhadores envolvidos na atividade, do público e do meio ambiente.
Existe a necessidade de aumentar o conhecimento nessa área, explica o pesquisador da Divisão de Radioproteção do IRD Rócio Reis. De acordo com ele, é a atividade radioativa dos materiais e suas características físicas, químicas e biológicas que determina como proceder. A norma 4.01 da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) traz informações sobre NORM no caso de exploração de minérios e seu beneficiamento.
Tratam-se de radionuclídeos de baixa atividade e tempo de meia-vida (período em que a radiação dos materiais decai pela metade) muito longo. Segundo Rócio Reis, alguns métodos já utilizados na contenção de outros poluentes convencionais e não radioativos podem, ainda que indiretamente, mitigar os riscos radiológicos devido ao NORM. Porém é preciso ficar atento a outros impactos. Dependendo da deposição, o material pode chegar ao lençol freático e esses radionuclídeos afetariam o meio ambiente.
O pesquisador do IRD Luiz Ernesto Matta desenvolveu um trabalho junto à Petrobrás que resultou no treinamento da força de trabalho. Como consequência, modificações no processo produtivo foram adotadas. Tudo por conta da proteção radiológica dos trabalhadores envolvidos, a chamada exposição ocupacional.
O próximo passo a ser discutido refere-se ao cuidado dos materiais gerados, que devem ser tratados e armazenados até sua deposição final. Portanto, o debate sobre depósitos de rejeitos de baixa e média atividade passa a ser de extrema importância não apenas para a indústria nuclear, mas para os vários segmentos industriais.
Informações completas sobre o simpósio Minérios e Radioatividade no site www.ird.gov.br/Norm2014.
Fonte: IRD